Pioneiras da Ciência no Brasil - 5ª Edição

Em parceria com a Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM-PR), o CNPq lança hoje a quinta edição das Pioneiras da Ciência no Brasil. O Programa Mulher e Ciência já lançou  quatro séries de verbetes sobre as pioneiras das ciências no Brasil, com a divulgação do trabalho de várias cientistas e pesquisadoras brasileiras que participaram e contribuíram de forma relevante para o desenvolvimento cientifico e a formação de recursos humanos para a ciência e tecnologia no Brasil.

O Programa Mulher e Ciência agradece mais uma vez a contribuição de vários/as pesquisadores/as, professores/as, analistas em ciência e tecnologia do CNPq e instituições que sugeriram nomes e colaboraram na produção dos verbetes aqui publicados. Ressalte-se que um dos objetivos principais do Programa Mulher e Ciência é contribuir para a criação de espaços de visibilidade para as mulheres cientistas e as suas contribuições nas diferentes áreas do conhecimento.

Com a continuidade da divulgação da história e memória das pesquisadoras e cientistas brasileiras, solicitamos a sua colaboração no mapeamento de outras cientistas que tenham trabalho  relevante e ainda pouco divulgado ou, então, em relação a outras ações que possam contribuir para o incentivo e divulgação das mulheres nas ciências. Escreva para a equipe do Programa Mulher e Ciência pelo endereço:

programamulhereciencia@cnpq.br  

Maria Judith Zuzarte Cortesão (1914-2007)

  • Judith, nascida Maria Judith Zuzarte Cortesão, gostava de ser chamada simplesmente pelo seu segundo nome, prescindindo, no tratamento pessoal, dos muitos títulos que obteve. Foi uma mulher única, por sua personalidade irrequieta, criativa, inteligente, múltipla e generosa e por sua trajetória de vida, que é aqui contada brevemente, pela visão de uma aluna e discípula sua. Nasceu em 31 de dezembro de 1914, na cidade do Porto, Portugal e veio a falecer em 25 de setembro de 2007, em companhia de alguns de seus oito filhos, em Genebra. Filha do historiador Jaime Zuzarte Cortesão, aos 17 anos deixa Portugal, com a família, em razão de perseguição política, pelo governo ditatorial daquele país. Exilam-se em vários países europeus até chegarem ao Brasil em 1940, quando Jaime vem pesquisar a história da formação territorial do país. Nesse período, convivem com importantes nomes da intelectualidade brasileira, como Manuel Bandeira, Murilo Mendes, Sérgio Buarque de Holanda, Assis Chateaubriand e Cecília Meireles, o que viria a influenciar a formação de Judith.

    Judith reside ainda no Peru e no Uruguai. No Brasil, casa-se com Agostinho da Silva, também português, que abandonara a terra natal também por motivos políticos. Eles têm oito filhos e residem sucessivamente em Itatiaia, RJ, em Santa Catarina e no Uruguai, onde já separada do marido, durante o regime militar, no início dos anos 1970, Judith é presa e torturada, sob a acusação de ligação com os guerrilheiros tupamaros.

    Na década de 1980, estabelece-se em Brasília, mudando-se nos anos 1990 para a cidade do Rio Grande, Rio Grande do Sul, em cuja Universidade Federal (FURG), foi professora de Educação Ambiental Marinha no primeiro Programa de Pós-graduação[1] em Educação Ambiental brasileiro. Judith dedicou-se academicamente a diversas áreas do conhecimento durante sua longa vida, dentre as quais Neuroendocrinologia, Matemática, Genética, Reprodução Humana, Climatologia, Antropologia, Espeleologia e Ecologia, além de Letras. Ministrou aulas em diversas universidades, entre elas, Université Paris-Sorbonne, onde também doutorou-se em Letras, Université de Nanterre, Université de Caen na França; Open University, Grã-Bretanha; Universidades portuguesas de Lisboa, de Aveiro, de Trás-os Montes, de Évora e do Porto; e na Universidade Federal do Rio Grande, Brasil.

    Cidadã de ideias mais do que de países, como a definiu o intelectual português Manuel António Pina, ela escreveu dezesseis livros, entre eles "Pantanal Pantanais" e "Juréia, a Luta pela Vida". Participou da elaboração de seis filmes, tais como "Taim a Reserva Gaúcha", de Lyonel Lucini, "EMAS: Parque Nacional do Cerrado", "O Último Estuário" e "O Mundo Natural do Cerrado". Foi uma das criadoras do programa Globo Ecologia e da Ong ARCA, e consultora das Ongs SOS Mata Atlântica e Instituto Acqua. Além desse ativismo ambiental, ela idealizou, como médica, o Centro de Informação e Formação de Médicos e Cirurgiões de Doenças do Aparelho Locomotor de Brasília, no Hospital Sarah Kubitschek, e representou o Brasil em diversas comissões, que serão listadas à parte, senão, como ela diria, ficaria esta lista, assim em meio ao texto, uma coisa antiestética. Aliás, arte e estética faziam parte dos seus conhecimentos e compunham as suas metodologias de ensino, orientando os fluxos de pensamento individual e coletivo.

    Atavicamente ligada ao mar, (era velejadora e uma grande marinheira, falava aos seus alunos de vivências na Ilha da Madeira), participa diretamente na criação do Museu Antártico e presta consultoria ao Museu Oceanográfico Professor Eliezer de Carvalho Rios e ao Ecomuseu da Ilha da Pólvora, todos em Rio Grande. Na década de 1990, desenvolve diversas pesquisas dentre as quais se destacam as realizadas na Estação Ecológica do Taim, o Projeto Asas Polares, o Projeto Mar de Dentro, que objetiva despoluir e preservar as águas da Laguna dos Patos e seus ecossistemas. Foi inspiradora do Projeto Museu do Pão, ativo, hoje na cidade gaúcha de Ilópolis. Propõe o Projeto Alfabetização de Mulheres Pescadoras, tendo composto o livreto de alfabetização de adultos: Viva o Mar; Viva o Povo que Vive do Mar. É autora da poesia / oração Pater Noster ecológico, encontrada na obra de Moraes, 2014, escrita como presente ao amigo, oceanólogo e diretor dos citados museus náuticos Lauro Barcellos.

    Para Judith, a necessidade e a vontade de ação, assim como a militância e o espírito aventureiro nunca se desligaram de uma insaciável sede de conhecimento, acompanhada do respeito absoluto a todo e qualquer partner na ação de conhecer. Á cada ação, Judith imprimia um otimismo que ensejava a persistência para planejar e executar tarefas tão diversas, quanto a sua própria formação. Ações sempre perpassadas pelo olhar profundamente humanista. Dotada de uma visão e uma postura sempre à frente do seu tempo, compreendeu e difundiu a necessidade de preservação ecológica antes mesmo de o ambientalismo se tornar um movimento organizado, já desde os anos 1980.

    Participa das duas primeiras expedições brasileiras à Antártida, em 1982 e 1983. Durante as viagens, Judith coordena 40 projetos de pesquisa chancelados pela Secretaria de Meio Ambiente ¿ SEMA, além da expedição ao arquipélago de São Pedro e São Paulo, anos depois. Em 2002, já com a saúde bastante debilitada, planeja uma 2ª expedição (que não chegou a concretizar-se) a este arquipélago. Disso resta-nos talvez a última lição dessa grande dama da Ciência, do Conhecimento, da Ecologia e do Mar: não parar a espera da morte; antes deixar que ela nos alcance em meio a planos e projetos. É um modo de seguir vivendo neles.

    Preservação, para ela, significa pensar a integração homem ¿ natureza, tendo em vista as necessidades das comunidades humanas, sendo dever do pesquisador e do intelectual trabalhar para melhorar a qualidade de vida das populações, integradas ao ambiente natural, principalmente num país tão desigual como o Brasil, na perspectiva da própria comunidade, mas pensando-a globalmente. Ecologia na sua visão é um conhecimento construído, multifacetado, envolvendo relações dinâmicas, que devem ser entendidas á luz do passado, e contextualizadas no presente, tendo em vista o futuro. Pensava assim, integradamente, tanto o tempo, como os espaços. Falava em microcosmo, mesocosmo e macrocosmo, relacionando-os, sendo o mesocosmo o espaço onde nos movemos, onde devem coexistir animais, homens, plantas e todos os seres vivos; natureza e sociedade; desenvolvimento e conservação, numa grande e complexa teia da vida. Nada está separado e tudo se une, mas não mediante uma simetria simplória; mas numa parassimetria, ou seja, uma simetria além das primeiras aparências. Ela procurava em seus estudos essa parassimetria.

    No documentário Intérpretes do Brasil, ao tratar de aspectos da colonização, Judith dá um exemplo desta sua visão integrada, integradora e não óbvia das relações sociais e do devir histórico. Trata-se de aspectos da colonização brasileira e da mentalidade portuguesa da época do descobrimento, "lidos" a partir da beleza da ecologia marinha: "Os relatos [dos portugueses] falam da transparência das ondas e dos pequenos peixes rubros. Aquelas ilhas representavam o triunfo da vida sobre a matéria (...), eram cheias de coisas extraordinárias. Tudo isso é natural que tenha levado os navegadores ao mito, que tenha feito com que o Brasil, pela circunstância do esplendor e da variedade de sua paisagem, virasse a terra, por excelência, do mito" (FERAZ, 2001).

    Por ocasião da Assembleia Nacional Constituinte brasileira, onde foram votadas leis atinentes ao meio ambiente, ela circulava com bom humor e ânimo permanentes nos corredores do Congresso Nacional, arrebanhando, nas suas palavras "ecoespiões", ou parceiros para a causa do meio ambiente, que era entendido por ela na sua acepção mais ampla e complexa, como formado pelas relações humanas, sociais, ecológicas, econômicas, macroeconômicas, entre outras. Ecoespiões era uma metáfora sua para apontar a importância de ouvir, conhecer e entender aquele que pode afigurar-se como adversário, sempre na busca por avançar rumo à compreensão omnilateral das questões ambientais.

    Seja num espaço amplo de definições maiores como a Assembleia Constituinte, ou numa escola básica, a sua vontade de formar "agentes multiplicadores de educação ecológica", fossem crianças ou jovens universitários, moradores das comunidades, políticos ou qualquer pessoa, foi incansável.

    Nas palavras da socióloga Maristela Bernardo: "Essa é a Judith, digamos, do curriculum vitae. Mas não revela o essencial, que ficou impresso na história de milhares de pessoas que ela influenciou" (BERNARDO, 2007). Os que conviveram com ela tiveram uma experiência transcendente de profissionalismo e amizade (para ela não são coisas dissociadas). O fruto da convivência com a profa. Judith inseria invariavelmente a pessoa num contexto maior, parafraseando Paulo Freire, abria e apontava a possibilidade do "ser mais / ser melhor", que ela advogava para todos, fosse quem fosse.

    Outro trecho de Maristela sobre Judith diz: "Simples e frugal, Judith não era professoral nunca, não constrangia ninguém com sua bagagem acadêmica e intelectual, não tinha pose. Conversava com todos, de crianças a ministros, com a mesma generosidade e interesse. Gostava de pessoas e achava sempre alguma graça nelas. Via além de limites e alinhamentos ideológicos, estéticos, etários, profissionais; das discriminações que em geral usamos para defender nosso espaço, nosso "lado" na vida. Judith não respeitava essas fronteiras, não vetava ninguém. Sofreu algumas birras de burocratas, a quem enlouquecia com seus métodos heterodoxos de agir dentro do Estado, mas parecia não se importar. A passagem dessa mulher excepcional pelo Brasil foi sempre de um frescor, de um viço únicos. Suas lições estão menos nos livros que escreveu e nas instituições que idealizou do que na vida das pessoa/s que tocou, muitas vezes sem que elas se dessem conta" (BERNARDO, op cit. 2007).

    Isto porque segundo Clayton F. Lino "Ela nunca falava com o cargo, ela falava com a pessoa. Então, era um relacionamento humano, em todos os sentidos. Você via almirantes trocando confidências com a Judith da mesma maneira que o pescador, um indígena ou um ambientalista. E essa facilidade dela de falar com as pessoas e ir encantando, isso teve um peso muito grande" (Superinteressante, 2011).

    As casas da doutora Judith, (no plural pois seu ímpeto aventureiro e ativista não lhe permitiam deixar-se ficar por muito tempo no mesmo lugar), eram centros de Ecoespionagem... onde se conspiravam projetos. Gostava muito de receber e de servir à mesa. As aulas-chá-da-tarde eram excepcionais ocasiões de convívio e aprendizagens. Gostava também de presentear amigos, alunos e quaisquer pessoas que a providência ou o acaso colocassem em seu caminho. Acima de tudo, nutria paixão por ensinar e por seus alunos, vendo em cada um, algo de especial e essencial. O seu encanto pessoal fazia parte da sua estratégia de conseguir parceiros, ou "conspiradores" em favor do meio ambiente.

    De acordo com Lauro Barcellos, amigo íntimo da doutora, (em entrevista ao jornalista Péricles Gonçalves, 2014), para Judith o servir é a mais importante virtude humana, em seguida vem a virtude de compadecer-se de todas as criaturas, sendo a terceira virtude a capacidade de maravilhar-se com o mundo, com a Natureza e com o ser humano, e só então vem a virtude do saber. Ensinava esses valores com doçura e bondade irrestritas, dispensando tratamento igual a todos. Em que pese seu vasto cabedal de conhecimentos e atuação, procurava exercer e ensinava o valor da modéstia, que em sua opinião está relacionada à inteligência. Já a virtude da humildade relaciona-se à santidade. Munida desses conceitos, com sua sensibilidade fora do comum, aposta absolutamente no ser humano, captando o que as pessoas têm de melhor, propiciando ao seu interlocutor construir-se e reconstruir-se. A personalidade da Judith é tão magnética, que hoje, pessoas desconhecidas entre si, mas que privaram da sua convivência, nas suas muitas andanças, sentem-se irmanadas pela aura e pela energia da mestra.

    Judith era, como se vê, uma visionaria. Nas palavras de Touguinha, um seu amigo próximo e parceiro em projetos: "Com Judith Cortesão descobrimos o mais esquecido dos direitos, o direito de agir de acordo com aquilo em que se acredita" (TOUGUINHA, 2008). Segundo, ele, um dos seus últimos desejos, já com idade avançada, foi o de conseguir uma bolsa de estudos para estudar Teologia Ecumênica na Suíça, tendo em mente que "todas as crises que afligem a humanidade seriam resolvidas com o Ecumenismo e com o dialogo inter-religioso" (Op cit., 2008).

    Já muito doente e fragilizada, Judith muda-se para a Suíça em 2002, para cuidar da saúde e para, nas palavras dela: "estar com os meninos" (os filhos e filhas), já que a maioria deles vive na Europa. Em 2003, retorna ao Brasil para receber do presidente Lula a Grã-Cruz da Ordem do Mérito Cultural Brasileiro. Nessas ocasiões de receber prêmios, homenagens e condecorações mais uma face de sua encantadora personalidade mostrava-se: recebia esses prêmios com genuína alegria e espírito de congraçamento. Em 2007, morreu na Suíça, sem deixar fortuna, a não ser a grandiosa coleção de livros e de peças de artesanato. É difícil qualificar e impossível quantificar o seu legado, mas seu exemplo de vida ensina sobre o esplendor e a interdependência da vida no planeta, alertando e conclamando a todos para estarem atentos para os deveres que este esplendor implica.

    Assim, quando se encerrou sua existência neste plano, o escritor Gil B. Martins escreveu: "Mais do que morrer, morreu-nos Judith Cortesão" (MARTINS, 2007), porque sua morte, assim como sua vida não são eventos banais ou triviais; ao contrário, são de grande impacto em todos os que tiveram o privilégio de conhecê-la.

    Comissões

    Comissão sobre o Patrimônio da Humanidade (Canadá), Comissão Internacional da Baleia (Japão), Comissão Internacional dos Oceanos (Rio de Janeiro), Convenção das Nações Unidas sobre a Poluição Marinha de Origem Terrestre (Quênia), Convenção das Nações Unidas para a Conservação de Espécies Animais Silvestres Migratórios (Genebra). Acompanhou missões da Unesco em Portugal e no Brasil, e representou o Peru, o Uruguai e a Inglaterra em congressos sobre assuntos tão diversos como medicina, literatura e educação.

    Prêmios e títulos

    Recebeu diversos prêmios e homenagens, entre eles: o 1º Prêmio Nacional de Museologia, pelo projeto do Museu Terra/Homem, 1º Prêmio Nacional do Filme Científico por "Emas Parque Nacional do Cerrado", ganhou o título de Heroína Nacional, outorgado pelo Senado, em razão da sua participação na 1ª e 2ª viagens do Barão de Tefé à Antártida, e o de Cidadã Honorária da Cidade do Rio Grande. Recebeu o Prêmio Alvorada, do Governo do Distrito Federal por contribuir à cultura de Brasília, o Prêmio da NASA por uma vida dedicada ao intercâmbio científico nacional, o Prêmio Muriqui, da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, reconhecido como uma das mais importantes homenagens às ações ambientais no país e, finalmente, a Ordem do Mérito Cultural, concedida pelo Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva e pelo Ministro da Cultura, Gilberto Gil, que homenageia personalidades e instituições voltadas à valorização da cultura.

     

    Fontes:

    BARCELLOS. L. J. P. Entrevista concedida ao jornalista Péricles Gonçalves, na TV FURG em 26/11/2014. Disponível em: http://bibliotecasalaverde.blogspot.com.br/p/judith-cortesao.html, acesso em 04/02/2015.

    BERNARDO. M. O tempo e Judith, a Ecoespiã. Repositório FGV de Periódicos e Revistas. Disponível em http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/pagina22/article/view/33633, acesso em 19/02/2015.

    CORTESÃO. M. J. Z. Viva o Mar; Viva o Povo que Vive do Mar. Apostila, 199(?).

    FERRAZ. I. G. Documentário Intérpretes do Brasil. Mídia: DVD duplo, 2001/2002.

    MARTINS. G. B. Crônica publicada no Jornal Agora. Edição de 29 e 30/09/2007.  http://edicoesanteriores.jornalagora.com.br/site/index.php?caderno=46&noticia=43182, acesso em 03/03/2015.

    MORAES. C. R. O que é Educação Ambiental. São Paulo, All Print, 2015.

    Notas de aula da disciplina de Educação Ambiental Marinha, 2º semestre de 1999.

    PINA. M. A. Judith Cortesão, Blog Caminhos da Memória, 2008, Disponível em: https://caminhosdamemoria.wordpress.com/2008/10/22/judith-cortesao/, acesso em 25/02/2015.

    Revista Superinteressante. Edição 154, fevereiro de 2011. Disponível em:

    http://www.superinteressante.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=444:matriarca-do-ambiente&catid=6:artigos&Itemid=80, acesso em: 05/03/2015.

    Site do Município de Ilópolis, RS. http://www.ilopolis-rs.com.br/site/noticia.php?id=44, acesso em 10/02/2015.

    Site da Sala Verde do Programa de Pós-graduação em Educação Ambiental, FURG. Disponível em: http://bibliotecasalaverde.blogspot.com.br/p/judith-cortesao.html, acesso em: 22/01/2015.

    TOUGUINHA. M. L. S. Em resposta ao texto de Manuel António Pina, no blog https://caminhosdamemoria.wordpress.com/2008/10/22/judith-cortesao/, acesso em 25/02/2015.

    Autoria do verbete:

    Núbia da Silva Martinelli é mestre em Educação Ambiental (FURG) e doutoranda em Educação em Ciências. Trabalha no Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, Campus Rio Grande.


    [1] Hoje o Programa de Pós-graduação em Educação Ambiental ¿ PPGEA, da Universidade Federal do Rio Grande mantém, junto à sua biblioteca setorial, a Sala Verde Judith Cortesão, que reúne o acervo da doutora, composto de livros, manuscritos, peças de artesanato, vídeos, entre outros objetos. Além desta Sala Verde, a doutora Judith também empresta seu nome à Sala Verde do município paranaense de Loanda.


Rosa Virgínia Barreto de Mattos Oliveira e Silva (1940-2012)

  • A linguista histórica brasileira Rosa Virgínia Barreto de Mattos Oliveira e Silva nasceu em 27 de julho de 1940 em Salvador  Bahia e faleceu na mesma cidade no dia 16 de julho de 2012.  Sempre que indagada sobre a sua opção pelos estudos históricos do português, dizia que, "ainda na sua graduação logo no início dos anos sessenta do século passado, foi mordida, definitivamente, pela história da língua". De lá até muito recentemente, essa mordida das veredas históricas do português em Rosa Virgínia, não deixou de produzir os melhores frutos para a linguística brasileira. Descrever minuciosamente a história do português quer seja brasileiro ou europeu, como uma arqueóloga da língua, escavando os meandros históricos pelos quais essa língua percorre(u) desde a Idade Média até bem pouco tempo atrás, sempre esteve no horizonte teórico-metodológico e acadêmico da linguista brasileira Rosa Virgínia Barreto de Mattos Oliveira e Silva.

    Atenta não só com as questões da ciência linguística, mas com os problemas sociais, a linguista sempre se preocupou também em refletir sobre as contribuições da linguística histórica para o ensino de português na escola. Defendia com veemência que a pesquisa acadêmica não poderia estar distante da sala de aula de português. Em um texto ainda inédito no qual relata o seu início de carreira a uma amiga, Rosa Virgínia disse: "Olha, muita gente está alfabetizando pelo Brasil e poucos se dedicam ao passado da língua portuguesa. No meu caso, tanto posso alfabetizar, como pesquisar o português do período arcaico". Essa fala deixa bastante claro que pesquisa em linguística diacrônica e ensino do português sempre estiveram na densa e produtiva agenda trabalho de Rosa Virgínia.

    A professora Rosa Virgínia doutorou-se em linguística pela Universidade de São Paulo em 1971. Embora sua tese esteja inscrita no domínio da filologia, Rosa Virgínia desenvolveu pesquisas que não se deixam se circunscrever nesse domínio apenas. Desde muito cedo, estabeleceu um rico diálogo com outras áreas da linguística como a Sociolinguística e a Dialetologia. Foi Professora Titular e Emérita da Universidade Federal da Bahia ¿ UFBA e Pesquisadora 1 A do CNPq. Foi fundadora do Programa de Pós-Graduação em Letras e Linguística da UFBA. Publicou mais de 60 artigos em renomadas revistas brasileiras e estrangeiras, 18 livros e 40 capítulos de livros. Vários desses livros, capítulos e artigos foram publicados em Portugal e são consultas obrigatórias aos pesquisadores da área.

    Dentre os inúmeros trabalhos publicados que merecem destaque estão, por exemplo, a publicação, em co-autoria com Nelson Rossi e Dinah Calou, do Atlas Prévios do Falares Baianos APFB (1963): primeiro atlas linguístico publicado no Brasil e referência ainda atual para estudos na área de dialetologia e sociolinguística. O livro O português arcaico: fonologia, morfologia e sintaxe, publicado em 2006, é outra obra da autora que merece destaque. Trata-se também de uma obra de referência obrigatória para os estudiosos do português (brasileiro e europeu). Orientou 23 dissertações de mestrado, 12 teses de doutorado e um grande número de trabalhos de iniciação científica. Muitos de seus ex-orientados são linguistas internacionalmente (re)conhecidos.

    Desde 1990 trabalhou com muito afinco para a consolidação Programa para a História da Língua Portuguesa (PROHPOR) - http://www.prohpor.org/. Projeto que reúne pesquisadores das mais variadas tendências linguísticas e tem como objetivo central o estudo da constituição histórica da língua portuguesa, desde o período arcaico, infletindo, a partir do século XVI, para a investigação do português brasileiro. Ademais, o Programa para a História da Língua Portuguesa (PROHPOR) serviu de inspiração para a criação de diversos outros projetos similares no âmbito do português histórico brasileiro. Rosa Virgínia contribuiu decisivamente para a implementação e consolidação dos estudos diacrônicos do português na linguística brasileira.

    Sua partida inesperada no inverno de 2012, precisamente em 16 de julho, na capital baiana, faltando pouco mais de uma dezena de dias para o seu septuagésimo segundo aniversário, deixou a linguística brasileira, sobretudo, no âmbito dos estudos diacrônicos, além de mais triste, um pouco como uma história "à beira da falésia"[1], ou seja, entre a certeza, a inquietude e elãs muito otimistas.

     

    Fontes:

    Currículo Lattes

     http://lattes.cnpq.br/3149705136297230

     

    "Rosa Virgínia Mattos e Silva: sobre a vida e a obra de uma linguista histórica brasileira",  conferência apresentada por Américo Venâncio Lopes Machado Filho no XVII Congresso Nacional de Filologia e Linguística, no dia 27 de agosto de 2013, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).  Este texto pode ser acessado no endereço http://www.gruponemesis.ufba.br/sites/gruponemesis.ufba.br/files/conferencia_xvii_cnfl.pdf

     

    Autoria do verbete:

    Roberto Leiser Baronas é professor no Departamento de Letras, no Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal de São Carlos ¿ UFSCar e pesquisador do CNPq. E-mail baronas@ufscar.br



    [1]Expressão tomada de empréstimo do título do livro do historiador francês Roger Chartier "À beira da falésia: a história entre certezas e inquietude", publicada pela Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS em 2002.